quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Certo ou errado: Hope encara acusação de desrespeito às mulheres




Apesar do avanço da tecnologia e da ciência e da distância de tempos em que as mulheres não possuíam direitos como o de votar, ainda é possível perceber, no Brasil, uma grande retrogradação de uma boa parcela da população.

Por incrível que pareça, nesta semana, quem deu sinais de provincianismo e tacanhez foi ninguém menos do que a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), a senhora Iriny Lopes, que enviou um ofício para a Hope e uma representação ao Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) para que uma propaganda fosse suspensa.

A peça publicitária em questão é da marca de lingerie 'Hope' e traz uma das mais famosas e importantes modelos do mundo, a brasileira Gisele Bündchen. Na campanha, a top model faz o papel da esposa que bate o carro e dá a notícia ao marido de duas formas: com roupas (que a Hope considera errada) e somente com peças íntimas (que a empresa diz ser a correta). O conceito humorístico e sensual, a meu ver, apenas ilustra uma situação que pode ser, muito bem, passível de ocorrer e que pode ser encarada, também, como uma simples brincadeira.

Apesar de a ação da SPM ter sido motivada por denúncias de seis brasileiros, a ministra, na minha opinião, jamais poderia ter levado o caso à frente. O órgão federal alega que o comercial da Hope estaria infringindo os artigos 1° e 5° da Constituição Federal que tratam da dignidade da pessoa humana e da igualdade perante a lei, respectivamente.

Se mostrar que com charme pode-se conseguir certas coisas e que a relação entre marido e mulher é cheia de subliminaridade é ferir os direitos, então a Hope é culpada. No entanto, a empresa não faz qualquer alusão ao desrespeito, às diferenças ou mesmo ao sexismo. Seria interessante que os nossos representantes tivessem a "mente aberta" e não fossem tão conservadores. Preocupações mais importantes como a falta de condições de educação e saúde, a corrupção e o progresso do país deveriam ser mais importantes do que a reclamação de seis brasileiros, dentre os mais de 190 milhões existentes, contra uma simples demonstração de criatividade.

Cresçam e apareçam!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Na merda sem o Lacerda



Um dos mais vistosos cartões postais de Salvador e a mais importante ligação entre as cidades Alta e Baixa da capital baiana, o Elevador Lacerda está fechado há cerca de um mês, causando muito transtorno na vida dos usuários do equipamento.

Apesar de a Prefeitura Municipal de Salvador (PMS) disponibilizar ônibus gratuitos para fazer a ligação entre os bairros, o fechamento do Elevador Lacerda altera o cotidiano de uma das mais significativas regiões da nossa cidade.

Inaugurado em 1873, o Lacerda é um símbolo do turismo soteropolitano e seu fechamento, a meu ver, é uma das mais vergonhosas situações causadas pela ridícula administração do Excelentíssimo Senhor João Henrique Carneiro, autal prefeito da 1ª capital do país. Panes elétricas e falta de manutenção fizeram com que as quatro cabines do equipamento fossem fechadas para, de acordo com a PMS, preservar a integridade dos usuários.

As rédeas fugiram tanto às mãos da Prefeitura, que o Elevador, desde sempre administrado pelos prefeitos de Salvador, será privatizado. Tudo indica que a tarifa, que à epoca do fechamento custava R$0,15, passará a ser R$0,50. Parece um valor irrisório, mas deve pesar, e muito, no bolso dos assalariados que precisam usar o meio de tranporte todos os dias. O gasto mensal salta de R$4,50 para R$15. Como eu disse, parece pouco. Entretanto, para quem tem que escolher se compra carne ou feijão, é muita coisa: um aumento superior a 200%.

SEM LIGAÇÃO

Para piorar as coisas, o Plano Inclinado Gonçalves, que liga o bairro do Comércio à Praça da Sé, está fechado há, aproximadamente, 8 meses. O cidadão, que não pode esperar o rodízio dos ônibus disponibilizados pela PMS, tem que subir a ladeira do Taboão para chegar ao Pelourinho e ou Santo Antônio que, diga-se de passagem, já não conta com um plano inclinado há tempos.

Pelo visto, a solução para Salvador é privatizar tudo. Privatizem a Orla. Privatizem o controle de trânsito. Privatizem a Segurança Pública. Oh, Deus! Aonde iremos parar?

E ainda tem gente que acha que a Copa 2014 será um sucesso em Salvador. Santa Ignorância!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

174 motivos para se tornar um criminoso



O filme 'Última Parada 174', exibido neste domingo (04/08) à noite na tv aberta, é um tiro no coração da sociedade brasileira. É a constatação de que somos nós, do alto do nosso comodismo, e os políticos que elegemos, que nada fazem em prol da melhoria da realidade social do país, os responsáveis pela produção em massa de Sandros em todo o território brasileiro.

O sequestro do ônibus 174, no bairro do Jardim Botânico no Rio de Janeiro, comoveu toda a mídia nacional e a população, que não desgrudou da tv para assistir o desenrolar do episódio. O incidente, que ocorreu no dia 12 de junho de 2000, durou cerca de 5 horas e resultou na morte de uma refém e do sequestrador, naquele momento conhecido, apenas, por Sandro.

Seria óbvio pensar que a refém foi morta pelo 'bandido' e que o rapaz morrera durante a operação. Ledo Engano. A jovem foi atingida por um policial 'cego', que errou um tiro a 1m de distância e acertou o queixo da professora. Assustado, Sandro alvejou a jovem com mais 3 tiros nas costas. Colocado no camburão, Sandro foi morto por asfixia. Um ano depois, os policias foram julgados por assassinato e declarados inocentes.

O que ninguém sabia, e que depois viria a sensibilizar uma parcela da sociedade - o que resultou na produção do documentário 'Ônibus 174' e no longa citado no início deste post - é que Sandro Barbosa do Nascimento estava fadado a este destino. Desde novo, a vida lhe tirou a chance de ser
feliz, transformando-o em um menino instável, viciado em drogas.

Muito novo, o jovem presenciou a morte da mãe, morta a facadas. Anos depois, em 1993, morando na rua, foi um dos sobreviventes da chacina da Candelária, que vitimou 8 moradores de rua.

O episódio deveria ter feito a massa política do país criar vergonha na cara e desenvolver estratégias para que não surgissem novos Sandros, mas o que a gente vê por aí é uma profusão de Sandros, Josés, Antônios, Márcios, Joãos, que têm a infância ceifada pela extrema pobreza e violência imposta por uma sociedade extremamente consumista, capitalista, racista e, acima de tudo, egoísta.

Uma observação: em novembro de 2001, a linha 174 mudou de número para 158.