quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Copa em Salvador – o verdadeiro apocalipse

A caminho de mais uma aula da Pós-Graduação passei pelas obras da Arena Fonte Nova, espaço multiuso construído para a Copa 2014, que será realizada no Brasil. Fiquei impressionada com o aparente bom andamento das obras. De acordo com José Luiz Góes, diretor de engenharia da Arena Fonte Nova, – em entrevista ao portal Ibahia – o complexo estará pronto ainda em dezembro deste ano. Questionado sobre a fase em que a construção se encontra, o engenheiro foi taxativo: “Na verdade, digamos, a parte mais difícil é de dar a partida na obra. Ela foi vencida no momento em que se concluiu a fundação, mas outros desafios estão vindo e têm seus graus de dificuldade também. A cobertura é um item de grande relevância, será uma das primeiras do nosso país”. Vale lembrar que serão investidos, na Arena, R$597 milhões e o novo estádio terá capacidade para 55 mil pagantes.

É um alívio saber que ao menos algo consegue ir para frente na província em que se transformou Salvador, mas falta tanto para que a cidade esteja, a meu ver, apta a receber um evento deste porte, dispensando condições dignas de mobilidade e acessibilidade, tanto aos visitantes, quanto à população residente. Na verdade, o que me deixou mais intrigada e indignada, confesso, foi lembrar e constatar que nenhuma outra intervenção infraestrutural exigida, inclusive, pelo comitê da Federação Internacional de Futebol (FIFA) está sendo executada, a exemplo do lendário metrô de Salvador, que conta, diga-se de passagem, com apenas seis quilômetros de extensão. Entre veículos leves sobre trilhos (VLT), o sistem Bus Rapid Transit (BRT), aeromóvel e abundante papo-furado, muito já foi especulado para a transformação da capital baiana, porém pouquíssimo foi feito para que esta realidade seja alcançada.

Para ligação com a Região Metropolitana, através do município de Lauro de Freitas, cogitou-se um sistema misto, formado por VLT na Avenida Luís Vianna Filho, popularmente conhecida como Paralela, e ônibus nas vias secundárias. Já o aeromóvel, projeto mirabolante do inacreditável João Leão, chefe da Casa Civil municipal, custaria R$90 milhões e contaria com uma linha de três quilômetros de trem suspenso ligando a Estação da Calçada ao Comércio.

Fala-se em uma quantia de aproximadamente R$5 bilhões para ser aplicada em obras de infraestrutura conectadas com o megaevento. Integram o rol de intervenções, a reforma e a ampliação do aeroporto internacional e a construção de uma via expressa, milagrosamente em execução, entre o porto e a principal rodovia de acesso à cidade, a BR-324. A área de segurança e o setor hoteleiro deverão ser beneficiados com recursos públicos e privados.

Nada mais certo do que o passar do tempo. Os gestores da cidade parecem esquecer esse detalhe e vem empurrando, com a barriga, tomadas de decisão que resultem em mudanças efetivas para Salvador. O anúncio que formalizou a realização de um dos maiores eventos esportivos do mundo no Brasil, galgando a Soterópolis como cidade-sede foi feito em 2009. Mais de três anos já se passaram e, enquanto isso, o que vemos são engarrafamentos estratosféricos, ônibus superlotados, pouca fiscalização e inúmeros buracos nas vias da cidade.

Copa em Salvador? Acho que vai ser que nem aquele filme, um 'Apocalipse Now'. Oremos!


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dando bandeira nos Bandeirantes – Empreiteira desrespeita cidadãos

Em busca de hábitos mais saudáveis, resolvi voltar do trabalho caminhando todos os dias. O percurso que faço é relativamente longo: saio do Pelourinho em direção à Baixa dos Sapateiros; passo pela Estação Aquidabã; entro na Avenida Djalma Dutra; sigo pela Ladeira dos Bandeirantes; adentro no bairro Vila Laura, onde resido, e, após 40 minutos de ladeiras, buracos, buzinadas e até cantadas indesejadas, chego à minha casa.

Com os fones de ouvido, seja escutando uma das rádios locais, seja curtindo a batida das minhas músicas favoritas, esse trajeto se torna rápido e, mesmo com os percalços que citei acima, agradável. O que eu não poderia imaginar é que haveria um, ou melhor, vários obstáculos que tirariam a paz da minha caminhada nas últimas semanas.

Em função de um empreendimento imobiliário, batizado de Fórmula Residencial Brotas, cuja obra está sendo realizada há cerca de um ano, inúmeros caminhões-betoneira (veículos que fazem a mistura do concreto utilizado nas construções) ficam ocupando a via local - Ladeira dos Bandeirantes -, impedindo o tráfego regular de carros, motos, ônibus e até mesmo dos pedestres.

Nessa última semana, flagrei nada menos do que quatro destes veículos estacionados ao longo da área da construção. Fiquei sem saber se passava entre os muros e os caminhões, que liberavam excessiva fumaça preta, pois estavam em funcionamento, ou se passava pela rua, dividindo espaço com os imensos ônibus e com impacientes motociclistas.

Fiquei tão incomodada com aquilo que resolvi fotografar a cena para deixar registrado e fui à procura de dados da legislação municipal que me explicassem como era possível que um empreendimento privado interferisse tanto na vida da sociedade. Sei que se trata de algo de proporções minimizadas, mas ainda assim acho que os cidadãos, não importa quantos sejam, devem ser respeitados.

De acordo com o artigo 47 do Código de Obras de Salvador, toda construção deve, entre outras coisas, seguir os seguintes parâmetros: I - manter os trechos de logradouros adjacentes à obra permanentemente desobstruídos e limpos; III - evitar o ruído excessivo, principalmente nas vizinhanças de hospitais, escolas, asilos e estabelecimentos semelhantes, obedecidos os parâmetros fixados na Lei nº 2.455/73.

Posso estar enganada, mas creio que os parágrafos acima citados são desrespeitados pela empreiteira Consil, executora da obra, uma vez que, de maneira alguma, os logradouros estão desobstruídos. Muito pelo contrário, estão, como eu disse anteriormente, impedindo a circulação normal dos componentes do trânsito.

Entende-se que a cidade está num total estado de abandono e que é pedir demais, sendo a Prefeitura “comandada” pelo “competentíssimo” João Henrique, que haja uma fiscalização eficiente. Mas nós, cidadãos, temos que ter o direito de usar os artifícios que dispomos para tentar modificar ou, pelo menos, chamar a atenção para as coisas que não concordamos. Eu, como jornalista, utilizo esta ferramenta para denunciar esse tipo de coisa. Engraçado que o slogan do empreendimento é “A fórmula para você morar bem”. Deviam fazer uma frase de efeito mais completa: “A fórmula para você morar bem e atazanar a vida de quem não quer e nem vai morar lá”.

Alô, próximo prefeito! Eu sei que, como diria o nobre deputado Tiririca, “pior que tá não fica”, mas a população soteropolitana está mais consciente e nós estaremos de olho. #Ficaadica!